About Me

My photo
Trabalho com TI, sou preocupado com questões ambientais.

10/06/2008

Sacrilégio

Se tú é do meu tempo, vive a experiência de confrontar ensinamentos que já estão longes, mas ainda muito vivos. Quem sabe quanto mais longes, mais vivos. Vivem contigo de uma maneira mais mágica do que aquilo que tu aprendeu recentemente. Talvez o fato de estarem longes faz deles um mito. Talvez porque tu os recebeste assim sem defeza, sem julgamentos.


Se somos assim, da mesma turma, deves ter tido uma educação religiosa marcante, no mínimo. Hás de te lembrar de um pecado muito grave, o sacrilégio. Cometesse voce qualquer pecado, a misericórdia de Deus traria voce devolta para a Sua casa. O sacrilégio, porem, deixaria Deus muito irado e o perdão te demandaria longas penas. A imagem que me vem, de um sacrilégio, seria tu ostentares um objeto sagrado num baile. Por exemplo.

Porque um baile não era um lugar para um crucifixo.


Se voce é do meu tempo, se teve uma infancia parecida com a minha aposto que depois de um certo tempo passou a enfrentar novas situações de vida em que certos dogmas passaram a perturbar.



Se tú é do meu tempo, tú te perdeu um monte de vezes. Chegou a concluir que sacrilégio era coisa prá religiosos valorizarem seus dogmas! Mas na maioria das vezes tu manteve tuas novas visões na discrição. Sabe como é, nunca se sabe! Sempre te veio aquela auto advertência de que com sacrilégio não se brinca.
Nas tuas faxinas, tu não sabe se joga fora ou não. Já estava caindo no lixo várias vezes e tu acabou colocando de volta na prateleira. Sabe como é, posso resolver pensar nisto um dia. Pode servir para alguma coisa.


Pois é, se tu é como eu já encontrou trocentos mestres na vida. Começando com Seicho no Ye, passou por Emaús, meditação e acabou chegando na crença do ateísmo absoluto como sendo a máxima do desapego e da libertação.


Aí tu descobre que liberdade é o que mais te atormenta. Pensa que descobriu algo aí tu te dá conta de que já escreveram isto outras trocentas vezes! Tantos já tiveram medo de serem livres, tantos já tiveram medo de amar!

Se o negócio é andar em círculos mesmo, que tudo leva a nada, nunca, então deixa eu tirar da prateleira aquilo que eu tinha guardado.


Me dou conta de que a palavra "sacrilégio" nos impõe medo e parece conter perigos ocultos , por um único motivo: porque contém mesmo!

Se tú é como eu, tem medo do que não vê. Tem medo do que não compreende, do que está disfarçado. Um assaltante, quando te assalta, diz: eu sou um assaltante, quero teu dinheiro. Se não, te mato. Só isso. O sacrílego não. Porque se esconde no amor. Já explico porque acho isto.

Se tú é como eu, te dizes liberal, democrático mas prendes tua mulher. Seu corpo e sua alma. Mas diz que não. Diz que quem a prende é a moral, os bons costumes. Fidelidade, por exemplo.

Não precisamos de arma nem de violência, usamos o amor. Assim o nosso medo vai se confundir com o sagrado. Se tú é como eu, no fundo tu gostaria de ser mais humilde, mais verdadeiro. A ponto de dizer para tua amada que a precisas possuir porque tens medo.

Enfim, estamos num baile e não num templo.

Acredito no sagrado. Porque há o sagrado. O amor, na sua essencia é impossivel no tempo. O amor é um lugar de descanso, um lugar de passagem. Deveríamos evitar nos referir a ele todo instante. Acho que cheguei onde quero chegar.

O amor é sagrado.

Não pertence aos bailes. Não serve para nada. Não deve servir. Não nos dá direitos nem deveres. Usá-lo em contratos é sacrilégio.

Eu sabia que isto ainda me serviria para alguma coisa.