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Trabalho com TI, sou preocupado com questões ambientais.

6/08/2008

Caminhos

Em férias, hospedado num pequeno vilarejo, levantei-me cedo para uma caminhada. Escolhi um caminho. Nele havia um enorme buraco. Não vi e caí dentro. Esborrachei-me, quebrei pernas e braços. Tive que lutar um dia inteiro para sair. Fiquei vários meses hospitalizado, entre a vida e a morte.
Anos depois, novamente em plena forma, novamente viajando em férias, parei à noite no mesmo vilarejo. Escolhi a mesma hospedaria. De manhã cedinho, levantei e tive vontade de dar uma caminhada. Escolhi o mesmo caminho.
Tive um rápido pressentimento. Que ali havia perigos e que deveria andar atento.
Mas o buraco ainda estava lá e numa pequena distração, caí novamente no mesmo buraco.

Quebrei um braço, esfolei-me, praguejei. Mas tive mais mais facilidade para sair. Pois eu já havia caído uma vez. Fiquei umas duas semanas de molho e estava recuperado.

Tempos depois, novamente viajando em férias, fui descansar e escolhi o mesmo vilarejo. Escolhi a mesma hospedaria. Levantei de manhã, bem cedo e tive vontade de dar uma caminhada. Escolhi o mesmo caminho.
Mas andei com muita precaução pois eu tinha uma sensação muito clara de que conhecia aquele caminho e de que havia perigo nele. Eu vigiava todos os meus passos e evitava qualquer tipo de dispersão. Mas o buraco ainda estava lá e no primeiro cochilo eu caí dentro novamente. Esfolei joelhos, mas nada grave. Olhei para os lados e vi que conhecia as paredes do buraco muito bem. Percebi onde poderia me apoiar e saí com uma facilidade incrível.
Lá fora olhei novamente o buraco enquanto me afastava dele. Estava agora ciente do meu aprendizado. Toda a vez que eu andasse por aquele caminho eu imediatamente reconheceria o buraco e saberia contorná-lo com facilidade. Ainda se caísse sairia num passe de mágica.

Seria até divertido pular para dentro e para fora daquele buraco.
Eu estava, agora, pronto para andar naquele caminho. Aquele caminho seria agora a minha especialidade!

Anos depois, novamente em férias, parei para descansar à noite.
Escolhi o mesmo vilarejo. Escolhi a mesma hospedaria. De manhã bem cedo, tive vontade de dar uma caminhada.
E escolhi um caminho diferente!




Carta aos meus netos e bisnetos

Caros neto e bisnetos.
Lamentamos terem demorado a chegar. Espero que cumpram com o que cabe à vossa geração, ou seja, limpar o lixo que deixamos.
Fomos mais espertos que vocês. Estamos deixando esta carta, para que percebam como fomos astutos. E, se quiserem, que aprendam conosco.
Nossa geração aprendeu a ser rápida.
Chegamos aqui a tempo e estava tudo bem mais limpo.
Já nossos avós eram meio lentos. Defecavam em "capungas". Coisa horrível aquele cheiro de cocô que ficava pairando no ar até tudo ser absorvido pela natureza.
Eles chegaram cedo demais, ao contrário de vocês. Antes da descoberta dos banheiros high teck, com azulejos onde tudo é perfumado. Dentro do banheiro, é claro! Damos descarga e vai tudo embora, pra longe, por tubos de PVC. Para onde, não sabemos. Para vocês, talvez. Mas o nosso banheiro não fede.

Foi nossa geração que descobriu também que é mais pratico embalar tudo em plástico e depois jogar fora. Tem uns caminhões que recolhem tudo. Para onde vai, não sabemos. Para vocês, talvez. Mas o nosso apartamento fica limpo.
Escolhemos nascer na hora em que a Amazônia estava praticamente intacta. Na hora em que a comida estava pronta. Depois alguém lava a louça! Encontramos água limpa e florestas. Pescamos lambaris, tomamos banho em sanga.
Se estiver fedendo por aí agora, limpem! E sejam mais espertos da próxima vez.
Este é o nosso legado. É o ensinamento que temos para transmitir.

Se assustaram? Bricadeirinha. A nossa geração é muito alegre. Gostamos de brincar.
Gostamos de pregar peças. Voces acreditaram? Acharam que seríamos de capazes de pensar de maneira tão grosseira!


Queremos que no futuro se encantem também olhando peixes em riachos, como nós nos encantamos. Somos diferentes dos nossos avós é claro. A gente senta pra bater um papinho, vire e mexe e alguém já está falando em como fazer alguma coisa de forma mais rápida.
Mas não somos rápidos somente para sujar e destruir. Inventamos o computador e o e-mail e assim aprendemos a nos comunicar melhor. Estamos orgulhosos disto. Como vocês ainda não tem endereço eletrônico, vamos mandando este recado um para o outro. Repassando esta mensagem para os nossos melhores amigos. Para aqueles que acreditamos que são sensíveis. Assim, estamos mandando uma mensagem para voces. Porque quando cuidamos do que é de todos, somos todos um só. Como a água e o ar que não se dividem. E assim, vamos aprendendo e vamos ficando mais próximos.
Para que, um dia, a gente se encontre.
Definitivamente!

O amor, o medo e a morte.

A Natureza Dualista

A tendência de buscarmos resultados mensuráveis nas nossas atividades diárias é conseqüência do dualismo da nossa mente. O ego nos faz eternos calculadores e está permanentemente nos forçando a fazer diferença com relação aos outros. Esta diferença é sua condição de subsistência e por isso estamos sempre sendo levados a intervir no nosso meio modificando o estado das coisas.
Assim o conhecimento de que somos unos com o todo não é passível de ser processado pela mente. A mente ocupa-se em servir ao ego. Podemos atingir estados de conciência elevados através do controle e até mesmo pela paralisação da mente, porem não de forma permanente. Porque estes estados pressupõe a nossa não existência como seres individuais o que faz com que o processo seja interceptado pela mente, que age em busca da manutenção da sua identidade. A mente manifesta-se pelo pensamento que é a tentativa de processar aquilo que percebe de forma a obter de resultados.

O caráter da mente é dualista, ao contrário da consciência que detém o conhecimento do que somos. Tentarei fazer uma analogia para expor como acredito ser a natureza e o funcionamento deste dualismo e o que o torna limitado.

Uma fotografia digital é composta de uma matriz de pequenos pontos, chamados pixeis. Estes pontos são representados na tela ou na impressora segundo um conjunto de atributos inerentes a eles.. A cor, por exemplo. A câmera capta a imagem, a decompõe em pontos e fixa atributos para cada ponto, segundo um julgamento, baseado em comparações com uma tabela que ela tem armazenada internamente. Este conjunto de atributos é limitado. Quanto maior, melhor a resolução. É limitado pela memória ou capacidade que o equipamento tem de guardar informações. Embora possa ser muito complexo, o sistema é finito e segue uma lógica. Se uma partícula de informação não se enquadra num atributo, terá que se enquadrar noutro. Ou é ou não é. É binário, como toda a base da eletrônica. O dualismo é, segundo vejo, o correspondente mental deste sistema.

A partícula básica da informática é o bit, que é alimentado por energia elétrica e pode ter duas situações: ligado ou desligado. Esta é a informação que pode retornar. Oito bits, que formam 1 byte, podem retornar 256 informações diferentes.
Um exemplo mais simples: devo responder a um questionário de 8 perguntas com as opções sim e não. Terei 256 maneiras diferentes de responder ao questionário.
Um conjunto muito grande de bytes, que formam os kbytes, megabytes etc. podem processar atividades muito complexas. Mas sempre baseados neste principio básico muito simples. São sempre diferentes arranjos de combinações de duas possibilidades.

A mente interpreta o que percebemos de forma similar. Não me proponho a sugerir aqui se ela agrupa 8 bits em 1 byte ou quais os protocolos de informação que usa. Movidos pela mente, entretanto, sempre seremos lógicos de forma a estarmos continuamente fazendo julgamentos do tipo é não é, é bom é ruim. Se não está estático, está em movimento. Está indo para cima, então não está indo para baixo.

A dedução poderá ser mais complexa. Está se movimentando de forma constante, em linha reta, em cores etc. Ou seja, pode contem um número maior de informações, formando uma conclusão mais complexa. Mas cada uma delas sempre estará baseada num conjunto de informações básicas de julgamentos e enquadramentos, do tipo sim não, é não é.

Desta forma, a mente possibilita que nos comuniquemos. Nos possibilita transmitir informações uns aos outros. Usamos protocolos. Do contrário, seria o caos, dentro da realidade em que vivemos. A informática faz maravilhas por ter universalizado os protocolos de informação e assim um grande número de pessoas e equipamentos pode se comunicar e desenvolver técnicas em conjunto. Entretanto o principio básico, formado por arranjos de possibildiades sim ou não, sempre existiu. A eletrônica facilitou apenas a troca e o processamento destas informações bem como a quantidade de informações a um numero praticamente ilimitado. Começamos com bits e hoje falamos em gigabytes. Mas o principio básico de informações binárias de julgamentos sim não, continua sendo o mesmo.
A mente tambem opera desta forma.
A aproximação entre as pessoas, a universalização das informações e o avanço da tecnologia permitiu que no conjunto tivéssemos uma capacidade de processar informações muito maior, porem sempre com caráter dualista.
A busca por resultados é ocupação básica da mente e a lógica que ela utiliza são análises comparativas que retornam duas possibilidades apenas. Nosso parecer final pode ser acurado,
mas este refinamento é em função do elevado número de julgamentos binários que compõe o nosso parecer final.












Na engenharia é comum nos referirmos ao vetor como sendo um conjunto de informações inerentes a uma entidade. As informações do esforço suportado por uma viga numa construção, precisam ser conhecidos para que ela possa ser dimensionada. Estas informações são: a direção da força, o ponto em que ela é aplicado e a sua intensidade. Um vetor contem estas 3 informações. Se soubermos apenas que a estrutura terá de suportar uma força externa de 100 kg, sem as outras duas informações, não poderemos dimensiona-la.

A vetorização tem em sua base o enquadramento. Um conjunto mais ou menos complexo de pequenos julgamentos de tipo é não é, sendo que o enquadramento em um exclui a possibilade do enquadradamento em outro.

A mente está continuamente vetorizando o que percebemos, inclusive nossos sentimentos.


A presença da mente e a sua negativa em cessar de operar o tempo todo nos impede de perceber o que somos. A mente codifica nossas percepções num conjunto de informações do tipo é , não é. Embora possa ser esta matriz de informações mais ou menos numerosa ou complexa, ela pode ser decomposta em pequenos micro julgamentos, semelhantes aos bits. Nossa mente calcula, compara. Para comparar, precisa separar, decompor. Visa nos tornar bons e não ruins. Nos enquadra. Nescessita da presença do ruim para que possa nos distinguir como bons.

O que sugiro é que tendemos a vetorizar nossas percepções. Temos a capacidade de perceber em um sentido maior, que é a contemplação, ou seja, através do conhecimento ou da percepção da essência, que não é analítica. Mas a mente, que age de forma parecida a um processador, vetoriza tudo. Classifica essencialmente segundo a utilidade. Assim, se um madeireiro se depara com uma árvore processa o que vê segundo a qualidade do lenho e do seu potencial de se tornar madeira. O biólogo pelas informações que poderão incrementar suas pesquisas.


Ainda se conseguirmos captar a essência de uma forma da natureza e ficarmos maravilhados, teremos a tendência de compartilhar o que vimos com os outros, tentando comunicar o que percebemos. Para comunicar, em palavras, precisamos vetorizar a nossa percepção.

Assim permanecemos intrigados. Queremos mais e sentimos que o acréscimo ou mesmo o aprimoramento do nosso conhecimento é sempre relativo a alguma outra coisa.
Estamos presos a um sistema baseado em julgamentos. Ou serve ou não serve. Se não é bom, é ruim.

Assim, vivemos por resultados.



O Medo

Uma máquina fotográfica digital não capta uma realidade, mas um conjunto de informações binárias acerca de uma cena. Somos comandados pela mente e assim captamos o que está no nosso campo de visão de forma semelhante. Temos o dom de perceber a essência, mas a mente, de difícil controle inicia um processo de julgamentos e traduz tudo segundo um critério de valores, principalmente pelo potencial de produzir resultados que objeto percebido tem.
Analisamos o meio que nos cerca, no sentido de que analisar significa separar. Sendo analisar uma das tarefas prediletas da mente, nos deparamos com um mundo fragmentado em um conjunto de coisas e acontecimentos que começam aqui e terminam ali.

Assim existimos. Pelo menos assim nos percebemos. Isolados. Começando onde os outros terminam e sendo o que os outros não são. A mente nos isola, nos classifica e assim mantemos a nossa identidade.

Embora seja a nossa mente que precisa criar limites ou bordas para que o objeto se saliente, temos medo do fim de tudo. Do fim da comida, do fim da festa, do fim do prazer. Mas só percebemos as ocorrências, a matéria, as pessoas enfim tudo, inclusive a nós mesmos, pelos nossos limites. Pelo nosso começo e pelo nosso fim. Se algo é, precisa legitimar o que não é. O que determina a existência de nossa propriedade é a construção de uma cerca. Ela precisa ter uma borda que determine onde ela termina. Se não terminar em algum lugar, não existe. Mesmo sabendo que ao construirmos uma cerca delimitaremos também tudo o que não é nossa propriedade. Embora tenhamos que viver com a conciencia de que a área que ficou do lado de fora é infinitamente maior maior daquela que ficou do lado de dentro.
Como letras que apareceram porque recortadas de um tecido. Surgiram da retirada do material que a envolvia.
Criação é separação. Como palavras são subtraídas do silencio, que tudo contém. Por isso expressam tão pouco. O silencio nos amedronta pelo seu conteúdo, razão pelo qual sempre tende a ser preenchido. Porque palavras são finitas e tem significado restrito. Sendo finitas nos mantem livres do medo da infinitude.
A finitude é a referencia maior para tudo o que possamos experimentar. Nossa mente está continuamente calculando no sentido de nos tornar maiores e melhores. Mas nossa tragédia está no fato de que não suportamos a abundância. Só percebemos o que é escasso. Fossem nossos recursos financeiros abundantes estariam fora da nossa percepção. As limitações são nossa referencia
Queremos o infinito e a vida eterna. Tememos a morte. Mas quando nos percebemos eternos este sentido de grandeza é imediatamente vetorizado pela nossa mente que passa a contabilizá-lo como um ganho. Sendo um ganho, precisa de um referencial. Precisa de uma referencia do que não seja eterno. E assim voltamos a nos identificar e isso na maioria das vezes parece mais seguro, mais perceptível. Assim o medo gera o ciclo do eterno retorno, como é citado por certas correntes religiosas.
A nossa existência como seres individuais está condicionada ao desejo de separação. Fomos subtraídos de um todo, para podermos existir. Nascemos da exclusão. Vivemos estruturados e tencionados por duas forças opostas. O desejo de permanecermos com identidade própria e a percepção de que podemos ser livres. Vivemos dentro deste intervalo. O instinto de liberdade nos sugerindo renuncias de toda ordem. Em nossos estados superiores de consciência nos damos conta de que devemos renunciar até a esperança, porque percebemos que não podemos ser totalmente livres enquanto tivermos esperanças. Porque esperanças são desejos e expectativas e em estados libertos percebemos que somos escravos somente dos nossos anseios.
Vivemos no estado individual, regido pelo ego, por uma força cuja origem não conhecemos. Sabemos ser ela a origem de todo sofrimento e causa de toda nossa limitação.

O estado de liberdade consiste no rompimento com tudo o que é verdadeiro no estado regido pela lógica da mente dualista, ou seja, tudo o que pode ser percebido e isolado. O sentimento de liberdade é a consciência de que somos um com o todo nos liberando de esforços para sermos bons pelo fato de não termos a que nem a quem nos referenciar. Não seremos livres enquanto lutarmos para sermos bons porque a liberdade consiste na ausência de julgamentos. Assim no estado de liberdade não comemoramos vitórias. Nos estados de desapego percebemo-nos ilimitados pelo fato de não sermos distintos.
A busca por resultados que nos diferenciem é determinada pelo medo que é o recurso usado pelo ego para nos manter identificados. Segundo a lógica dualista, para sermos identificados com A, não poderemos ser B. Então, prescindimos de uma exclusão para podermos ser.
Vivemos da negação em pertencermos ao todo. Somos esta negação. Vivemos o isolamento. Somos o resultado do que o que extraímos do todo. Somos o medo. Enquanto a força do ego tendo o medo como o mais forte aliado se sobressair, nossa existência estará garantida.
O medo é um recurso de sobrevivência. É um regulador da nossa evolução. Protege-nos de vôos para os quais não estamos preparados. Nos detém e nos retorna para caminhos que ainda não foram compreendidos.
Determinados caminhos nos vão sendo liberados e é nesta razão que libertamos também as coisas e as pessoas que detemos. Elas passarão então a ser parte nossa para uma realidade que está alem do tempo.

Nossos estados superiores de consciência, muitos vezes nos são proporcionados por uma falência significativa na obtenção de um resultado ou por uma perda. O dualismo da mente não suporta perdas e entra em colapso. Ou diminui sua atividade e experimentamos estados libertos, provocados por um circunstancial desapego, visto termos nos desprendido de algo ilusório. Tiramos o foco de algo que na realidade era inconsistente.


Embora seja nosso grau de desprendimento e coragem que determina até que ponto podemos avançar em direção à liberdade, não são nossos anseios e esperanças que nos libertam. Porque anseios e esperanças são desejos. E o conhecimento reside na percepção da perfeição do momento presente em que todos os eventos ocorridos no passado, praticados por quem quer que seja, sejam eles julgados bons ou maus, passam a ser a verdade atual e por isso extremamente justa. O que está ao nosso redor, no justo momento presente, não o seria se algum procedimento passado tivesse seu procedimento alterado. Percebemos que as escolhas individuais e coletivas se conjugam momento a momento e se manifestam através do estado das coisas ao nosso redor e que formam a realidade. Contrariamente, monitorados pela mente, somos levados a nos mantermos sempre afastados do mal, ou seja, estaremos sempre nos sentido superiores ou culpados.

Para que nossas ações sejam julgadas, haverão que ser isoladas e então poderão parecer injustas porque terão relação com o tempo em que foram criadas ou com um futuro no qual poderão interferir. Porque no momento presente as coisas não podem ter conseqüências.

Nossos vôos para a liberdade são abortados pelo medo, que nos reencaminha para a realização de tarefas ainda não compreendidas. Assim o resultado que aspiramos obter com o nosso trabalho seja talvez um recurso que alguma providencia maior use para que permaneçamos ocupados e assim voltados permanentemente na obtenção de um conhecimento que, enfim, nos liberte.

Nossa carência material fundamenta-se no medo.
A obtenção de dinheiro em suficientes quantidades fará com que ele não seja mais necessário e será excluído de nossas preocupações e valores. Perderá o sentido, como quem deixa de existir, assim como qualquer outra manifestação. Nossa existência sem a percepção do dinheiro é, entretanto, amedrontadora.
Nossas ocupações que tem como diretriz a busca de resultados poderão perder a orientação se não horver carência material. Os medos maiores poderão preencher o espaço.
Enquanto dominados pelo medo não haverão circunstancias nem favorecimentos externos que encaminharão nossas soluções financeiras.


O que percebemos

“Em verdade vos digo que, se disseres a àquela montanha, levanta-te e anda e em teu coração não duvidares, assim se fará” – (texto bíblico.)
As manifestações ao nosso redor são nossas projeções.
Assim são as pessoas que percebemos. São parcelas de nós mesmos que ainda não conhecemos, que ainda não incorporamos, por isso passiveis de serem percebidas.. Onde e porque se deu esta separação é nossa eterna pergunta. Talvez seja mais fácil indagar o que nos mantém separados.
As manifestações que percebemos isoladas ao nosso redor, são resíduos da nossa incompreensão e da nossa limitação em percebe-las como partes de nós mesmos.
São projeções do nosso estado presente de evolução, criação do nosso instinto evolutivo no sentido de nos servirem como referencias sobre as quais poderemos intervir ou não. Fontes de prazer ou sofrimento porem sempre perfeitamente ajustadas. Sendo aquilo que ainda percebemos como não sendo parte nossa, tornou-se matéria e assim perceptível a nossas atividades mentais. São o campo apropriado às nossas escolhas uma vez que são a parte que nos falta, segundo o nosso julgamento. A matéria é nossa incompreensão.
O que é compreendido não precisa mais nos circundar, mostrando-se útil ou com imperfeições que exijam nossa intervenção. O que nos é perfeito, escapa à nossa percepção.
Assim é o fato de que não nos detemos ou não percebemos uma infinidade de objetos que funcionam perfeitamente ao nosso redor. Nos detemos no que é escasso, no que não funciona ou carece da nossa intervenção.
Não conhecemos as peças do nosso carro que sempre funcionaram perfeitamente. Elas nunca se nos manifestaram.
O que percebemos é a condensação da energia proveniente daquilo que a nossa imperfeição é levada a desejar, por não conhecer.

Assim a montanha pode ser movida pelo simples fato de ser percepção. Porque foi subtraída de um todo perfeito pela nossa carência e pode ser reposicionada segundo a visão que temos de nós mesmos, no momento presente.

“Deus fez o mundo segundo sua imagem e semelhança” (texto bíblico)
Compreendendo Deus como o todo e tendo Ele criado o universo onde nos incluiu, segundo a sua imagem, teríamos sido nós extraídos por alguma razão deste todo.




O que fazemos

Através das nossas atividades interagimos com nossas manifestações que são os fenômenos que nos cercam. Com o que percebemos alheio a nós.
Somos detidos em nossas sucessivas tentativas de nos libertarmos e pelos desejos somos remetidos a intervir num meio físico criado por nós mesmos no sentido de serem aporte material para a nossa jornada ao conhecimento.

Vivemos num limite em que não perdemos totalmente o contato com o divino, e nem fomos totalmente consumidos pelo medo. Somos suportados por estas duas forças conflitantes. Vivemos neste intervalo
“Conflitos. É disto que somos feitos”.(Vinicius de Moraes).

Em nosso estado normal, vigiados pela atividade da mente, nossas tarefas só se justificam por carências. Neste sentido, somos reféns de carências.

Assim como uma vela que necessita estar apagada para que possa ser acesa, nossas intervenções prescindem de ausências, injustiças, vazios.

Na realidade, nossas atividades nada mais são do que ocupação e abrigo para a mente. Não poderia ser de outra forma. A necessidade de intervir, ou seja, destruir um estado de coisas, é apenas uma justificativa. A mente necessita justificar-se, sempre. Vivemos o paradoxo de sermos impulsionados a agir e como resultado do nosso trabalho vermos a eliminação daquilo que é o parâmetro para o nossa existência, que são as carências. Eliminaremos a fome e destruiremos o que é perceptível, uma vez que a ausência da fome não é uma existência. Não faz parte da criação.

Sob a vigilância da mente, impomos a obtenção de resultados às nossas atividades e estes, quando conseguidos, não são incorporados no conjunto das coisas que percebemos

O agradecimento, desta forma, não é racional.

A maioria das nossas atividades está, de alguma forma, envolvida no sentido de alcançarmos soluções de estabilidade. Mas não haverá nenhuma solução de estabilidade. A estabilidade é incompatível com a nossa existência. São nossos vícios, defeitos e carências que nos facultam existir. Assim como o vento, que existe por diferença de pressão. Como a eletricidade é formada pela diferença de tensão entre dois pólos. Não existe movimento no equilíbrio, mas na sua quebra. Buscamos desigualdades e carências porque elas nos propiciam movimento.
A reação que o meio externo exerce sobre nós, tem a natureza oposta das nossas vontades. Caso contrário não haveria mobilidade.
Nossas vontades satisfeitas encerram um ciclo e dispensariam a existências das manifestações como elementos isolados.
Nossas ações poderão intervir no meio, modificar um estado de coisas, e assim tornar perfeito o que antes era imperfeito. Sendo perfeito, escapará dos nossos sentidos, estará livre do nosso domínio e não será mais justificativa para nossas intervenções.
Enquanto a natureza daquilo que nos circunda não for assimilada, parecerá carente das nossas intervenções e alvo de nossos anseios.
Não permitiremos a ninguém nelas intervir por nós, no sentido de torná-las menos nocivas aos nossos interesses porque, detemos em nossos instintos a vontade de compreendê-las por nós mesmos.
Carentes de evolução, somos levados a criar as condições ideais para que as pessoas e as coisas ao nosso redor tornem-se o cenários oposto às nossas pretensões, no sentido de haver resistência e a conseqüente mobilidade. Nossos medos são áreas escuras que buscam a luz e é através de obstáculos que nos movemos. Obstáculos que se assemelham a degraus de uma escada reagindo sob nossos pés, com intensidade igual porem em sentido contrário ao nosso peso, ou seja, ás nossas vontades. Odiamos facilidades quando percebemos que estamos em áreas incompreendidas pois selas eriam circunstâncias impróprias. As pessoas e as coisas que nos rodeiam, bem como suas atitudes são extremamente justas, sempre.





Religiões

Toda vez que nos recusarmos a viver no ambiente nos destinado pela natureza maior e nos refugiarmos em templos, estaremos criando divisões. A nossa redenção consiste na nossa percepção de unidade com o universo e neste estado de compreensão não teremos nescessidade de buscar refúgios.

Religiões nasceram certamente inspiradas por aqueles que experimentaram vivencias libertas. No Cristianismo fala-se em pessoas possuídas pelo Espirito Santo. No Yoga busca-se atingir o Samadhi. Em outros, atingir o Nirvana.
Nossa impossibilidade de permanecer nestes estados libertos nos remete a criar utilidade prática a este estado, o que nos faz fundar religiões.
Pregadores de doutrinas da mesma forma que praticantes de caridade terão avalizado o alto propósito de sua missão se conscientes do fato de estarem a serviço de si mesmos por ainda não terem atingido permanentemente a compreensão de que as manifestações que as rodeiam são perfeitas como estão, por representarem a realidade presente das escolhas coletivas livres.
A citação bíblica “Ninguém vai ao pai senão por mim”, parece sugerir que é atravez do “filho” ou seja, através das manifestações que percebemos ao nosso redor que atingiremos a compreensão.
O ambiente dentro de tempos religiosos se propõe a simular um estado de consciência liberto. O ambiente fora dos templos, porém, é a nossa manifestação livre de manipulações. Considera-lo menos sagrado seria a negação de nós mesmos.
Assim o mundo em que se efetuam negociações econômicas livres de manipulação representa a projeção exata do que somos, das nossas carências e talentos, porque fruto de escolhas livres. O filho.
Se não o é, foi por interferências de idealismos que se impuseram.
Nas sociedades democráticas, que promovem regimes econômicos e pensamentos livres os recursos financeiros tendem a favorecer as pessoas mais libertas, mais desapegadas do próprio ego porque mais concientes de sua unidade com o todo e por isso mais perceptíveis das suas nescessidades de consumo.
Correntes religiosas usam declarar o desprovimento financeiro como virtuoso. É uma percepção remanescente de um estado de consciência liberto que nos inspirou o desapego porém a vetorização desta percepção quando voltamos ao nosso estado carnal gera doutrinas com ampla interpretação.
Nossa carência dos recursos financeiros nescessários nos torna muito mais focados neles. Porque o que percebemos são carências e não o que está suprido.

Sendo o mundo que nos rodeia justo, na medida em que é livre, é também templo e lugar ideal para a compreensão de nós mesmos. É o filho pelo qual iremos ao Pai.

Nossa incapacidade de perceber o nosso ambiente natural e livre como sagrado nos faz estabelecer um tempo e um local específicos para oração.

Religiões podem nos obscurecer porque na sua alta expectativa podem nos fixar a idéia de que um dia triunfaremos gloriosos por termos vivido o mais possível distantes de temas carnais e segundo normas que nos acumularam merecimentos

Enquanto que uma vida isenta de pretenções poderá nos ter tornado mais fluidos no sentido de nossa reinclusão num plano maior. Se não tomarmos o termo “maior” no sentido vetorial tão mais facilmente compreendido, inclusive no ambiente religioso.
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Daqueles de quem tivermos exigido o devido pagamento pelos nossos préstimos, na justa medida, ou seja, na medida financeira, nenhum desapontamento precisamos temer. O medo maior da morte pode estar oculto na repentina percepção de perda de uma vida inteira de recusas e filantropias que poderão se esvair. Teremos medo então de ter vivido em vão, acostumados que fomos com resultados.
Não teremos medo se de mãos vazias, sem nada a exigir, portanto, sem nada a temer. Só com o conhecimento do desapego e o prazer de simplesmente pertencer.

Não temos como perceber o que somos, no estado mortal, porque percebemos resultados. A vida eterna está no rompimento com estes e no mergulho para dentro do momento presente. Estamos aprisionados pelo condicional que se assemelha a uma máquina calculadora que a cada momento determina o nosso grau de validade. Nossos altos propósitos no sentido de alcançar o conhecimento libertador acabam se confundindo e se re-materializam em forma de palavras, setimentos de superioridade , de ganhos etc. É o que me refiro como vetorização ou eterno retorno.
Na essência, a expectativa por lucro financeiro acumulado ou por santidade nos remetem ao mesmo aprisionamento. E a crença de que o rompimento com este estado se dará em um tempo futuro e está condicionado ao nosso comportamento de hoje nos levará sempre ao mesmo ponto de partida. E quando nos desapegamos e acabamos por nos perceber além deste ponto, estaremos caindo no julgamento e voltaremos a nos apegar.
E quanto mais adiantes nos julgarmos, maior será o perigo. A salvação está no abandono destas expectativas de lucro para o futuro, seja ele financeiro ou qualquer outro. A liberdade está numa espécie de perda de referencia. Num sentimento de simplicidade em que perdemos o medo e aceitando que a graça possa ser gratuita e disponível a todos independente de méritos.
Se pretendermos voar precisamos entender que virtudes pesam a não ser aquelas que são partes nossas. E se assim forem, serão leves a ponto de não serem percebidas. Nestes estados não nos entendemos sábios nem desejosos de encaminhar ensinamentos ou verdades. Ao contrário, somos vulneráveis permitindo a nossa fusão pacífica com tudo o que nos rodeia. É um estado conciencia que não é passível de vetorização por isso é indescritível.

Da impossibilidade de permanecermos nestes estados por vivermos numa dimensão mental que nos cobra o tempo sermos distintos e diferenciados passamos a incrementar a expectativa dos nossos desejos e se este impulso não for controlado poderemos nos tornar perigosos.
Todas as organizações que tem como objetivo transmitir verdades e que visam formular comportamentos são baseadas numa ou noutra espécie de violência
A liberdade que sentimos em estados de absoluta harmonia não se caracteriza por estados de sabedoria mas é antes um sentimento de paz e desapego e percebemos tudo que nos rodeia como perfeito não porque tem características que sugerem perfeição mas porque formam uma realidade única da qual pertencemos. Imaginar a assim idealizar qualquer elemento isolado ou de forma diferente do que se apresenta seria absurda, pois negaria a realidade. Sendo esta realidade única e indivisível, estaríamos negando a existência de nós mesmos.
Não nos é possível obter ensinamentos de nenhuma pessoa ou entidade que esteja liberta uma vez que nestas condições não é concebível o isolamento de forma que possa haver transmissão de conhecimento. Poderão ser transmitidos pareceres e informações processadas pela mente, sempre no conceito dualista. Tudo o que pode ser transmitido por palavras é falível e haverá sempre uma afirmação contrária com a mesma consistência..
Porque tudo o que se pretende afirmar como criação precisa nescessáriamente ter um contrário.

Ensinamentos e doutrinas são trabalho mental e servem prioritariamente aos que as formulam. De forma parecida como qualquer outro trabalho bem ou serviço que compartilhamos. Entendo que não é próprio que sejam tratadas como superiores ou decorrentes de prodígios. Quem escreve ou prega deve entender sua intenção de melhor comunicar-se consigo mesmo fazendo-o com aqueles que ainda percebe distantes.
Não existe nenhum estado de saber em que somos detentores de algum conhecimento a ser transmitido, a não ser na ignorância, que é o único estado em que existimos individualmente..
Disputas por supremacias como detenção e acúmulo de bens materiais tem nocividade restrita uma vez que seus praticantes estão cientes da sua atividade mundana e assim não atribuem distinções aos seus procedimentos.
Porém, atribuir missão divina a nossa individualidade poderá conter perigosas e imprevisíveis conseqüências. Nos excluímos da simplicidade e despretensão, indispensáveis á reinclusão. Não nos é possível estarmos ungidos com qualquer espécie de dom divino no sentido de revelarmos conhecimento oculto a outrem. Esta percepção nasce numa ignorância maior que é o sentimento de dominação. Se houver magia ela consiste no sentimento de sermos ilimitados por não sermos distintos. A crença em paranormalidade é materialista e baseada na não aceitação de que todos os fenômenos que nos cercam são efêmeros e são recriados momento a momento segundo nossas crenças e pensamentos.
Costumamos rotular como fenômenos normais aqueles aos quais estamos acostumados porque se repetem várias e várias vezes e não nos causam mais espanto. Não porque conseguimos explica-los!


A teoria de vidas passadas ou futuras é uma fórmula da trazer para o compreensível uma explicação lógica sem a qual os acontecimentos que começaram no nosso nascimento e terminam na nossa morte não parecem formar uma história plausível
Passado, presente e futuro são dimensões temporais, facilmente assimiladas pela mente. Vidas passadas e futuras estão nesta dimensão. E não noutra. É, porém, um sistema com didática adequada para que compartilhemos ensinamentos e pareceres no sentido de nos tornarmos mais solidários uns com os outros.
É de mais fácil aceitação o fato de que seremos recompensados com prazeres futuros se vivermos corretamente agora. Precisamos de um resultado palpável para nossos procedimentos e nos sentiremos mais seguros se pudermos acumulá-los em forma de algum poder futuro..
Enfim, não queremos compartilhar o paraíso com os malfeitores!
Não estou a sugerir que as correntes que tratam da reencarnação tem propósitos menores porque são como empresas que visam lucro. Apenas acho que religiões e empresas são a mesma coisa e ambos podem ser bons.
Questiono as religiões de qualquer ordem que proclamam-se diferenciadas por afirmar que sua atividade é espiritual.

Para terminar este capítulo, quero manifestar minha admiração especial aos que escrevem poesias e romances inventados. Porque não afirmam nada, apenas possuem a capacidade de discorrer pelo mundo como ele é detendo-se mais nas dúvidas e conflitos do que num ponto de chegada. Um dia eu chego lá também!
Por enquanto escrevo aquilo que vou aprendendo. E ainda preciso de um ou outro leitor, ao menos e tomar assim emprestada uma parte de mim mesmo que a ainda vejo distante. Tomara que alguém tenha chegado até aqui! Mas, de repente saberemos que somos todos um só. Esta separação não faz muito sentido.
Um dia a gente chega lá!



O Amor

O amor não nos habilita a intervir no direito de ir e vir de quem amamos, porque não conhece distancia. Assim, no sentido de união mais facilmente compreensível entre nós, mortais, o ódio e o medo unem mais do que o amor.
Da mesma forma que o amor transcende o espaço, não se esmaecendo com a distancia, transcende também o tempo. Razão pela qual nos habilita à paciência.
Na medida em que compreendemos as coisas que percebemos, elas deixam de existir. Passam a ser sentidas como extensão nossa e não mais como fenômenos isolados, que terminam em algum lugar e a partir daí o espaço será carente de sua existência. Percebemos somente o que pode ser alvo de nossa intervenção. Tudo o que possui atributos e, portanto passível de julgamentos.
Toda a nossa existência é formada pelo que percebemos alheio e assim potencial propriedade nossa futura. Neste sentido, a mente executa um trabalho convergente com nossas buscas por liberdade porque nos incita à manipulação e a conseqüente compreensão daquilo que pertence à ignorância e só por isso manifestado nas nossas percepções. A manipulação das percepções é um meio para o seu conhecimento. Nossa crescente habilidade na manipulação das formas materiais perceptíveis poderá ser canal para a compreensão da essência das mesmas liberando-as da existência isolada.
“Ninguém vai ao pai senão por mim”.

Somos movidos por tentativas de melhorar nossas intervenções tornando nossas atividades mais aprimoradas e perseguindo conhecimentos que nos levem a manipular as manifestações de uma maneira perfeita. Nossos valores mudam, entretanto e nos percebemos em uma realidade que nos indica a impossibilidade de praticarmos o absolutamente correto. De uma forma geral o mais certo é que toda a intervenção é movida pela ignorância e geradora de sofrimentos. As culturas religiosas costumam fazer enquadramentos que contem orientações do que são práticas pecaminosas e o que são procedimentos que nos tornam melhores. Porem no sentido de que toda a intervenção pressupõe julgamentos ou inconformidades, todas as nossas atividades tem a mesma origem pecaminosa. E aquele que se achar distinto será o maior excluído. Vivemos no pecado e o pecado nos mantém.

O amor parece ser o último sentimento possível. O amor no seu sentido mais puro é o limite da nossa existência. É onde começamos a terminar. É uma fronteira. Um sentimento que não mais comporta desejos e assim nos isenta de existir, apesar de possível na nossa dimensão. Por isso me refiro a ele como sendo o último sentimento. Ele começa onde termina o medo e vai até onde não mais nos percebemos.
Imersos no amor não teremos nenhuma motivação de agir, pois o amor está situado alem das classificações e é fruto do conhecimento. Por estar situado em nossa última camada existencial não está mais ao alcance da gravidade do ego, situado no centro existencial. Sua ausência de peso nos habilita á morte.
Estando fora da gravidade existencial, imersos nele não temos tendência de agir porque o amor não visa nenhum propósito. Como uma luz existente na última camada existencial que não sugere nenhuma mobilidade. Irradia porções de luz para as camadas inferiores indicando sua existência, nos fornecendo a mínima orientação, sem o que não persistiríamos.

Não praticamos atos de amor, porque atos visam alterar estados e o amor é a percepção do perfeito. O amor não é regido pelo dualismo por isso não é suscetível ás percepções mentais. Por isso não calcula nem condiciona.
O amor é uma energia que pode iluminar nossa existência, mas seriamos inúteis vivendo imersos nele. Pois não criaríamos resistências á vontade dos outros.
Religiões costumam condenar sacrilégios que são o emprego do que é sagrado em objetivos fúteis. Penso que o amor é o mais profanado dos sentimentos. Em seu nome nos escondemos do medo e tentamos possuir a tudo e a todos.
Sendo o amor um sentimento libertador, concluímos que o ódio e o medo têm maior poder de unir, no sentido material, por serem sentimentos obscuros. Na nossa realidade existencial sustentada pelo medo, restringimos a liberdade das pessoas que nos cercam na proporção de sua suposta proximidade conosco. As estrelas, que estão distantes, são alvo apenas da nossa contemplação. Pássaros e flores silvestres estão praticamente livres da nossa vontade de intervir e mesmo assim são fontes de prazer pela sua forma livre de ser. As flores no nosso jardim e os animais de estimação poderão nos causar desgosto porque podem ser úteis.
Uma bailarina, em um pais distante poderá apenas nos maravilhar com sua forma livre de se manifestar enquanto da nossa amiga próxima iremos requerer uma certa compostura. A mulher que supostamente amamos é, para nós, a pessoa menos livre que conhecemos.

Em um sentido mais amplo o mais comum é que costumamos nos apoderar do sagrado no sentido de utilizar o amor em beneficio próprio. Quanto mais úteis nos são as manifestações que percebemos, inclusive as pessoas, mais as declaramos como sendo nossas amadas.
Amamos o que é bom. O que é correto e o que corresponde.

A nossa covardia se esconde no amor para retirar as pessoas de circulação para que passem a servir aos nossos interesses.
Religiões nos ensinam a não profanar o que é divino. Criam também regras que visam legitimar o fato de que cada um de nós tem o direito de restringir o comportamento de uma pessoa em especial, por toda a vida. Nossa esposa.
Outras que se dizem mais tolerantes aceitam que se pode restringir a liberdade de várias, desde que uma de cada vez.
Este direito seria legitimado pelo amor!
Isto se deve ao fato de que vivemos em uma realidade em que o amor na sua forma mais pura é inútil ao nosso desenvolvimento. É um local de passagem onde descansamos e não temos tarefas a realizar. É uma camada de luz que nos encobre como a terra é circundada de ar para que não sufoquemos.





A Morte

O nescessidade de estabelecimento de limites, por parte da mente, determina a descontinuidade entre as diversas manifestações e forma a criação. A criação é a delimitação.
“Deus fez o mundo segundo a sua imagem e semelhança” – texto bíblico
Quando nascemos passamos a nos perceber nas coisas externas a nós.
A morte é nosso restabelecimento com o todo. Passamos a vida toda, instintivamente, buscando este restabelecimento.
O amor nos livra deste antagonismo e é capaz de perceber a morte como sendo um estado de libertação.
Nossa mente nos sugere que a morte se situa num tempo futuro. Vivemos uma vida inteira instintivamente buscando morrer e alcançar a libertação. Somos mantidos no estado contrário, sustentado pela mente, que nos mantém isolados enquanto houverem cargas de ignorância a serem purgadas. A mente, embora contrariando nossos desejos de paz, nos mantém envolvidos em paixões que são a manifestação exata das nossas obscuridades, a procura de matéria, com capacidade de processá-las até a sua exaustão.
Paz e amor são locais de descanso. A guerra nos faculta conhecer o inimigo. O inimigo compreendido será vencido. Pela compreensão passamos a amar. Pela compreensão perdemos o senso dos limites que sugerem uma delimitação entre o que é nosso e o que não é e passamos a perceber o externo como parte nossa. O conhecimento é a arma que fará o inimigo cair.
Nosso senso de agir sugere responsabilidades que nos remetem a aprisionar coisas e pessoas e vai perdendo intensidade na medida em que cresce em compreensão, o que nos fará mais vulneráveis e descontraidos e assim aptos a nos reunirmos na verdade.
A morte é a destruição de todas as obscuridades pela falência total de todo o nosso senso de dever, passando a dar lugar à compreensão e a consequente ausência de anseios.
A matéria é resultado do que aprisionamos e assim se torna alvo do nosso senso de intervir.. O que não é alvo de nossa intervenção não está isolado e não nos faz nenhum sentido porque a mente nos cobra produtividade e esta é refém daquilo que não está solucionado.
O único sentimento libertador e nossa única porta de saída é o amor. Por isso é porta. Por isso é saída. É abandono. É a fronteira entre a vida e a morte. Por isso nosso medo de amar é nosso medo maior. Porque se parece com a morte. Não seremos capazes de amar no sentido puro do amor, enquanto nos percebermos. O amor se assemelha com o ar. É impossível flutuarmos nele porque ele não nos oferece resistências e se nega a amparar nosso peso. Entretanto ele nos envolve para que não sufoquemos. A sua fluidez é total e assim ele somente ocupa os espaços que decidimos não tomar. Pó isso ele esboça a nossa forma.
Como o ar, o amor nos envolve mas não se impõe no sentido de determinar nossa forma e permite que o tomemos segundo podemos respirar. O sentimento de amor que nos é possível, no estado existencial que compreendemos, é como a brisa do ar que sopra vês por outra um pouco mais intensamente para que possa ser percebida. Apenas desta forma. Amarmos de forma plena seria a aceitação total da morte.

Somos o mundo que nos cerca.


Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Somos criador e criatura, porém não compreendemos. A não compreensão nos isola. Ao compreendermos, morremos no que nos cerca.
Somos cercados por coisas, ferramentas de evolução que criamos. Nosso censo de isolamento é assegurado pela ignorância, entretanto necessária à nossa existência. Alguns de nós evoluem no meio natural outros constrõe templos e religiões.
Nossa expansão se dá na medida em que passamos a nos perceber no aparente distante. O cuidado conosco e com o nosso quarto é primitivo, é inicio Nos expandimos ao considerarmos uma familia família. O percepção da cidade vem depois e o entendimento do planeta nos permite partir.

Nossa família é o primeiro degrau para que passemos a nos perceber como uma só aldeia.
O mundo que nos cerca é rearranjado, momento a momento, atualizando o que somos. Assim nosso emprego e nossa rua são perfeitos para nós no presente momento.
Se um pequeno movimento das nossas mãos interfere na realidade de todos não é porque os outros estão sujeitos à nossa vontade. É porque são parte nossa.
Somente nossa rendição poderá nos fazer entender completamente esta realidade. Só o conhecimento liberta. Adquirimos conhecimento na medida em que percebemos e manipulamos adequadamente o que nos cerca.
Nascemos recebendo a oportunidade de voltar. O mundo nos retorna sinais ásperos nos sinalizando que estamos resistentes em nos reencontrarmos novamente. Nascemos para aprendermos a morrer pelo nosso próprio consentimento.
Quando o corpo não mais resistir, nossa alma terá que ter aprendido a morrer. No nosso estado apegado morrer significa abandonar e ser abandonado. O conhecimento nos mostrará que a morte, na verdade é re-união.

Contrários

A ciência da engenharia enuncia que numa estrutura existem tensões que mantém a construção (ou qualquer objeto) estático. Estas tensões são forças que se anulam entre si. Tomada uma direção, digamos, a vertical, o conjunto de forças exercidas de baixo para cima será exatamente igual às forças (ou cargas) existentes de cima para baixo. A mesma regra vale para qualquer direção.
A regra geral é que o somatório da projeção de vetores que representam as tensões, aplicada em qualquer eixo de direção (x, y ou z), é sempre igual a zero.
No momento em que esta soma assume qualquer valor diferente de zero, a estrutura entra em colapso.
Tomando-se uma estrutura extremamente simples, digamos 2 caibros de madeira apoiados no solo e se unindo no alto, apoiados um no outro, formando assim um “V” invertido. Formam uma estrutura. Consistem numa construção.
No seu ponto de união, no topo, onde se tocam, haverão duas forças opostas absolutamente iguais, porem de sentido contrário. Esta força contrária e igual é condição para a permanência da estrutura.
O exemplo é extremamente simples. Usei apenas para demonstrar. Mas a mesma lei é fundamento para a existência de qualquer manifestação material mais ou menos complexa.
A criação se dá pelo confrontamento de contrários.
Não podemos ter desejos sem que fundamentados na experiencia de sentimento contrário.
A vontade de tomar um sorvete de morango é possivel porque conhecemos o dissabor de não tomarmos o sorvete de morango. A carência do objeto é provocada por ele mesmo.
Somos corpo emocional e nossas emoções emergem da percepção dos nossos sentimentos contrários. Somos o conflito.
Vivemos o medo de vermos nossos conflitos resolvidos. Porque romperíamos. Esta possibilidade nos confronta com a morte. Aos nossos ideais de liberdade somos os próprios opositores, por instinto de sobrevivência.
O medo de amar é o medo de morrer.

A existência, segundo a percebemos, é o que conflita. É o que não está equacionado. É o que resiste a solução.
A morte é formada pelo medo e pela resistência que impomos a ela. Somos eternos quando não resistimos à morte.
Não somos formados por bons ou maus atributos. Somos os nossos conflitos. Eles são os componentes da nossa construção. São tensões formados por forças opostas, conflitantes, e só por isso existenciais.

A energia elétrica existe na medida da diferença de tensão entre dois pólos. Quanto maior esta tensão, maior a sua capacidade de retornar trabalho mecânico.
A tarefa bem realizada nada constrói, apenas dilui. O mal feito constrói, deixa resíduos, existencialidades. Cargas kármicas, segundo alguns.
O ganho financeiro atenua a nossa percepção ao dinheiro e o valor que atribuimos a ele.
Problemas solucionados deixam de ser referencia por isto percebemos essencialmente as partes do nosso mundo que não funcionam.
O amor não constrói. Liberta.
Criamos as trevas porque desejamos a consciência da luz.
Nossas alegrias são baseadas no seu exato contrário. Assim também nossos infortúnios.
A liberdade só é possível na ausência de desejos.
O texto bíblico “não haverá pedra sobre pedra” refere-se à inexistência de forças opostas. Da inexistência de qualquer fator que possa construir. Do final da existencialidade visto nela não haver reação por não haver ação. Da inexistência de inícios, que nos fazem conhecer o fim.
Parece se referir ao fim do mundo. Ou ao contrário, à eternidade.